Defendida por Bolsonaro, cloroquina aumenta risco de morte em pacientes, diz estudo

A pesquisa foi realizada com pacientes de 671 hospitais em seis continentes, internados entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril deste ano. Das 96.032 pessoas analisadas, 14.888 foram tratadas com alguma variação ou combinação da cloroquina nas primeiras 48 horas de internação. Procurado para comentar o estudo, o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou.   A matéria continua após a publicidade   Entre os pacientes que tomaram a hidroxicloroquina, houve aumento de 34% no risco de mortalidade e de 137% no risco de arritmias cardíacas graves. Quando combinada com antibióticos, a droga aumentou em até 45% o risco de morte nos pacientes e em 411% a chance de arritmia cardiaca grave. Já a cloroquina, quando administrada sozinha, representou um aumento de 37% no risco de mortalidade e de 256% em arritmia cardiaca. Quando combinada com um antibiótico, ela continuou apresentando o mesmo risco de mortalidade e um aumento de 301% no risco de arritmias cardíacas graves. O estudo aponta também a falta de eficácia comprovada da medicação por pesquisas anteriores. "O uso dessa classe de drogas para a covid-19 é baseado em um pequeno número de experimentos anedóticos que demonstraram respostas variáveis em análises observacionais, não controladas e em ensaios clínicos aleatórios e abertos que foram amplamente inconclusivos."

Ministério da Saúde no Brasil recomenda uso da cloroquina

Na quarta-feira, 20, o Ministério da Saúde liberou a cloroquina para todos os pacientes de covid-19. Em documento, o ministério recomendou a prescrição do medicamento desde os primeiros sinais da doença causada pelo coronavírus. Embora não haja comprovação científica da eficácia do medicamento contra a doença, o Ministério da Saúde alegou, no documento, que o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou recentemente que médicos receitem a seus pacientes a cloroquina e a hidroxicloroquina, uma variação da droga. O próprio presidente Jair Bolsonaro, que defende o uso do medicamento, disse que ele não tem comprovação científica de combate à doença, mas comparou a indicação do remédio à luta em uma guerra para justificar a defesa de liberá-lo para todos os pacientes. "Ainda não existe comprovação científica. Mas sendo monitorada e usada no Brasil e no mundo. Contudo, estamos em Guerra: 'Pior do que ser derrotado é a vergonha de não ter lutado'.Deus abençoe o nosso Brasil!", escreveu o presidente em redes sociais ao comentar o protocolo divulgado pelo Ministério da Saúde para a prescrição do remédio. A defesa de Bolsonaro do uso da cloroquina levou à queda dos ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

Outros estudos

Diversos estudos já comprovaram que não há eficácia comprovada da droga no combate ao novo coronavírus. Somente neste mês de maio, alguma das mais importantes revistas médicas do mundo - New England Journal of Medicine (NEJM), o Journal of the American Medical Association (Jama) e o British Medical Journal (BMJ) - publicaram estudos com resultados nada promissores. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também já havia alertado para os efeitos do uso cloroquina. A entidade já afirmou que não há eficácia comprovada do medicamento e aconselhou uso apenas em estudos clínicos. A recomendação foi feita nesta quarta-feira, 20. “Uma nação soberana tem o direito de aconselhar seus cidadãos sobre qualquer medicamento. Mas gostaria de destacar que, até agora, a cloroquina e a hidroxicloroquina não foram identificadas como eficazes para tratar a covid-19. Diversas autoridades já emitiram alertas sobre efeitos colaterais. A OMS aconselha que esse medicamento seja utilizado apenas em estudos clínicos supervisionados por médicos em ambiente hospitalar, como já ocorre em diversos países”, disse o diretor do programa de emergências do órgão, Michael Ryan.

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