Mulher reduz tumor no cérebro ao criar estufa de maconha dentro de casa em SP

A biomédica Gizele Thame, de 61 anos, se livrou de um preconceito pessoal e aceitou fazer um tratamento utilizando óleo artesanal de cannabis, mesma substância da maconha, para tentar se curar de uma grave doença. O fitoterápico ameniza os sintomas do tumor cerebral que, segundo a paciente, não tem cura. Recentemente, a mulher conseguiu o aval da Justiça Federal para plantar e produzir o extrato em sua residência na cidade de Bertioga, no litoral de São Paulo.

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Ela é a primeira pessoa no litoral de São Paulo a conseguir essa autorização, que foi cedida pela juíza da 6ª Vara Federal de Santos. Antes da liberação, ela passou dois anos plantando ilegalmente as plantas mas, em abril, teve coragem para solicitar um habeas corpus preventivo, após ter a comprovação de que, com o uso do extrato, seu tumor regrediu, além de minimizar os sintomas da doença.

Maconha é cultivada para extração de óleo — Foto: Arquivo pessoal/Gizele Thame

Maconha é cultivada para extração de óleo — Foto: Arquivo pessoal/Gizele Thame

Segundo ela, com menos de dois meses de uso, a melhora na qualidade de vida foi impressionante. O stress acabou, a qualidade do sono passou a ser ótima e as dores neuropáticas de pernas melhoraram muito. Com a confirmação da melhora, Gizele declarou a Polícia Federal que estava cometendo um crime e queria um habeas corpus para não ser presa. O processo com 200 páginas tramitou até ela conseguir a autorização para o plantio e transporte de Cannabis, bem como a importação de sementes.

A plantação e extração do óleo é feita em sua casa com a ajuda do filho, que foi quem apresentou o tratamento com o óleo de maconha. “Minha primeira reação foi recusar, afinal era uma droga ilegal. Precisei de um tempo para derrubar o preconceito. Hoje posso testemunhar que o preconceito é pura falta de informação”, relata. Ela conta que a intolerância com a planta vem de quando estudava no primeiro grau, no qual existia a “turma dos maconheiros”, de quem sempre foi orientada a ficar longe. “Cresci assim e segui com esse preconceito vida a fora, até que recebi o diagnóstico”.

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A doença

Gizele descobriu a doença por acaso após uma queda, que a fez bater a cabeça e ter de correr para o médico. “Aqui no Hospital de Bertioga não tinha tomógrafo funcionando, então o médico me orientou a fazer esse exame em outro local. Fui para São Paulo e fiz a tomografia”. A avaliação clínica não acusou nenhum sangramento decorrente da incidente, no entanto, apontou a existência de um tumor.

“Aí começou uma longa trajetória que iniciou com a busca por outros neurologistas na esperança de encontrar um especialista que respeitasse minha recusa em não operar. Fui em seis médicos e todos falaram que tinha que operar, pois o tipo do meu tumor é não-hormonal, ou seja, não responde a tratamento com hormônios, sendo o único recurso a cirurgia. Não aceitei e fiquei emocionalmente bem afetada, apática, paralisada. Não fiz nada, só aceitando que minha vida estava acabada. Era uma questão de pouco tempo”.

A esperança da biomédica foi retomada quando seu filho falou do tratamento com a planta e passou a lhe mostrar depoimentos de pacientes com a mesma doença. Ela começou a pesquisar e encontrou testemunhos de pacientes com tumor sem crescimento ou crescimento lento. “Poucos depoimentos falavam de regressão de tumor cerebral, mas em todos, os pacientes citavam a melhora considerável na qualidade de vida, com dores controladas, sem depressão, e qualidade de sono”, explica.

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A plantação

Ao entender e aceitar os inúmeros benefícios, ela entrou para uma ONG, onde aprendeu, ao lado do filho, como cultivar a maconha e extrair o óleo. Em outubro de 2017, passou a usar o óleo, sob a supervisão da médica que cuida de seu caso. “Minha médica disse não ter familiaridade com o uso de Cannabis em tumores de hipófise, que seria uma tentativa, porém ela tinha certeza que eu tinha a indicação desse tratamento para todo o ‘em torno’ da doença, como o stress, as dores e a insônia”.

Estufa para cultivo fica na casa de Gizele, em Bertioga — Foto: Divulgação/Gizele Thame

Estufa para cultivo fica na casa de Gizele, em Bertioga — Foto: Divulgação/Gizele Thame

Gizele conta que o processo é feito da mesma maneira que uma horta caseira, sujeito a alterações climáticas e a pragas que acometem as plantas. No caso de Cannabis, há outra dificuldade, pois as plantas denominadas macho e hermafroditas tem de ser tiradas do grupo e serem jogadas fora. Somente a planta fêmea dá as flores adequadas para a extração do óleo.

“Tenho autorização para ter 30 pés de Cannabis em diferentes estágios, em floração e em vegetação. A quantidade é definida pela dosagem de cada paciente. Agrônomos fazem essa conta para definir a quantidade de plantas necessárias para que não falte o remédio”. Atualmente, ela faz a ingestão de 20 gotas ao longo do dia.

Plantas são usadas para fazer extração de óleo fitoterápico — Foto: Arquivo pessoal/Gizele Thame

Plantas são usadas para fazer extração de óleo fitoterápico — Foto: Arquivo pessoal/Gizele Thame

A regressão

Durante um ano e meio de tratamento, o tumor se manteve estável e sem nenhum crescimento, o que, segundo ela, já era maravilhoso. No entanto, em agosto de 2018, ela teve uma surpresa: ao realizar uma ressonância magnética, soube que o tumor havia regredido. O tumor que antes tinha 1,2 x 0,8 x 0,8, passou a ter 0,7 x 0,4 x 0,8.

A médica Eliane Nunes, responsável pelo caso de Gizele, destaca a importância de pacientes terem acesso ao canabinoide. “No caso dela, foi interessante porque promoveu a redução do tumor e isso fez com que ela, além de melhorar a qualidade de vida, saísse do risco de ter que fazer a cirurgia. Eu acho muito importante que os pacientes possam ter acesso e possam fazer o tratamento da forma mais indicada”, finaliza.

Óleo é confeccionado na residência da paciente — Foto: Divulgação/ Gizele Thame
Óleo é confeccionado na residência da paciente — Foto: Divulgação/ Gizele Thame

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