Cortejo toma ruas do centro para comemorar os 466 anos de São Paulo

SÃO PAULO - Enquanto as primeiras pessoas se concentravam em torno de um trio elétrico, que exibia desenhos inspirados na obra da pintora Tarsila do Amaral, o Grande Cortejo Modernista para comemorar o aniversário de 466 anos de São Paulo, completados neste sábado (25), tinha seu início oficial em um pequeno palco montado ao lado do Pátio do Colégio. Na frente do icônico sino da praça onde nasceu a cidade, o Coral Paulistano se apresentou com o Coral Guarani Amba Vera, com os integrantes vestindo trajes brancos. Os mestres de cerimônia eram os atores Pascoal da Conceição e José Rubens Chachá, que interpretaram, respectivamente, Mário e Oswald de Andrade.

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"Eu virei um pouco o Oswald de Andrade oficial de São Paulo", diz Chachá.
Não foi a primeira vez que os artistas deram vida a esses personagens emblemáticos da literatura brasileira. E, provavelmente, não será a última. Chachá, que já interpretou Oswald no cinema, no teatro e na televisão, diverte-se ao contar que já espera ser chamado para as comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna, em 2022.
O ator Pascoal da Conceição também fala sobre o personagem que ele voltou a interpretar, agora no Grande Cortejo Modernista: "Revisitar Mário de Andrade é revisitar aquela figura que lutou pela cultura, pela cultura indígena, afro, cabocla, pelo brasileiro em si".
Chachá foi o responsável por apresentar a cantora Elba Ramalho e convidar o público a segui-la no trio. Um pouco antes, artistas vestidos com roupas típicas da década de 1920 e usando pernas de pau, se movimentavam à frente, dando início ao cortejo.
Elba Ramalho
A cantora Elba Ramalho deu início ao Grande Cortejo Modernista, que abriu as comemorações do aniversario de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Revisitar Mário de Andrade é revisitar aquela figura que lutou pela cultura, pela cultura indígena, afro, cabocla, pelo brasileiro em si
Pascoal da Conceição
O personagem Mário de Andrade também apareceu, no cortejo, ao lado de Anitta Malfatti, interpretada por Virgínia Cavendish. Em uma de suas últimas falas, Pascoal retoma um texto de Mário, em que ele diz: "A cultura é tão necessária quanto o pão".
Toda vez que vai interpretar Oswald, Chachá conta "se jogar" nos livros do autor, para absorver seu espírito "anárquico, libertador , vanguardista, moderno por excelência".
Cortejo Modernista
Coral Guarani Amba Vera também se apresentou com todos os integrantes vestindo trajes brancos Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Sobre o roteiro, Chachá conta: "É um texto escrito pelo Alexandre Del Farra, que sofreu alguns pequenos cortes; por ser um evento para milhares de pessoas, nós tivemos de deixar um pouco mais simples, mas 90% é o texto que nos mandaram. Mas não tem didatismo algum, e isso é um fato positivo. Como é um cortejo que algumas pessoas vão abandonar e outras vão seguir até o final, alguma coisa acaba sendo perdida por alguém, então, é uma coisa mais lúdica, falando da cidade de São Paulo, dos personagens; eu acho que foi um formato bacana que se assumiu".
Como é um cortejo que algumas pessoas vão abandonar e outras vão seguir até o final, alguma coisa acaba sendo perdida por alguém, então, é uma coisa mais lúdica, falando da cidade de São Paulo, dos personagens
José Rubens Chachá
Seguindo pela Rua Boa Vista até o Largo São Bento, Elba animou o público com músicas como Xote das Meninas, de Luiz Gonzaga, e Esperando na Janela, sucesso na voz de Gilberto Gil.
Grande Cortejo Modernista
Cortejo promoveu passeio pelo centro com atrações como Karol Conka e Rashid Foto: Daniel Teixeira/Estadão
"São Paulo tem a potência de uma cidade que abriga, que recebe pessoas, uma cidade itinerante, cosmopolita. Existem paulistas que nasceram aqui, mas existem vários Estados brasileiros aqui", disse ao Estado Elba, pouco antes de subir ao palco. "Eu acho legal comemorar esse aniversário fazendo esse passeio. O que significa, para mim, esse cortejo é abraçar todos os povos, abraçar tudo o que a cidade abraça, ao longo de sua história."
Aproveitando a festa com uma amiga, Catarina Schiesari, de 21 anos, conta que soube do evento por meio de sua avó. Ela foi para ver a banda Bixiga 70, que tem cada vez mais destaque na cena paulistana, e se surpreendeu ao saber que eles estavam no cortejo para acompanhar Elba, e não para tocar suas músicas autorais.
Assim, o repertório escolhido pela cantora, bem eclético, foi bom para a jovem poder aproveitar o show. Em cima de um pequeno trio elétrico, Elba cantou clássicos de Alceu Valença, como Anunciação; hits de sua carreira, como Banho de Cheiro; e até um rock dos Titãs em ritmo de axé, Sonífera Ilha.
Cortejo Modernista
A ação promoveu uma viagem pela história do Modernismo e suas manifestações na capital paulista. Atores e atrizes foram convidados para dar vida a personagens históricos Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Chamou a atenção de Catarina a presença de pessoas de várias idades, incluindo idosos, mas ela acha que o trajeto de Elba poderia ter ocorrido em um lugar mais aberto. "O show foi bom, mas eu acho que o som estava meio abafado, por ser numa via mais fechada."
Ali, Elba deu lugar a artistas como Karol Conka e Rashid, que se apresentaram no Largo São Bento, local considerado o berço do hip hop paulistano.
Depois teve show com os Demônios da Garoa, que apresentaram clássicos do samba paulistano a partir da sacada do Edifício Sampaio Moreira. O público também acompanhou uma apresentação ds musicista Leda Cruz, em um piano suspenso no ar por cabos. E o cortejo continou e seguiu para o Teatro Municipal, onde Marcos Palmeira interpretou o compositor Villa-Lobos, ao lado de outros personagens históricos do modernismo brasileiro.
De lá, o cortejo continou com o bloco Pagu pelo Largo do Paiçandu e, depois, com outro bloco, o afro Ilú Obá de Min, até a Galeria do Rock, onde a banda Skank se apresentou. Na esquina entre as avenidas São João e Ipiranga, um pequeno palco suspenso foi montado para receber Ney Matogrosso, ao lado do pianista Leandro Braga.
Mas, no show que fechava o cortejo, a estrutura de som deixou a desejar. A menos de 100 metros do palco, era difícil ouvir a voz do cantor e sua interpretação sempre impactante de canções como Último Desejo e Nada por Mim. A situação gerou coros frequentes de "aumenta o som" por parte da plateia.
Público aprova o cortejo
A publicitária Heloísa Carneiro, de 37 anos, esteve presente pelo segundo ano consecutivo na festa de aniversário de São Paulo. Para ela, o formato de cortejo é um ponto positivo desta edição.
"Dessa forma, você consegue aproveitar melhor toda a programação. Com atrações em palcos separados, você sempre acaba perdendo algo legal; você tem que ser mais seletivo", afirmou.
Com atrações em palcos separados, você sempre acaba perdendo algo legal; você tem que ser mais seletivo
Heloísa Carneiro
Cortejo Modernista
Manifestação dos integrantes do Coral Guarani Amba Vera  Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Isabel Maria Tosetti, de 69 anos, conta que não sai do centro, e, por sua ligação com literatura (ela é formada em Letras), achou particularmente interessante a ideia de fazer um cortejo inspirado na Semana de Arte Moderna de 1922.
"É maravilhoso. Isso agrega (ao público) algo que fez parte da nossa história, resgatando escritores e artistas que muito jovens não conhecem, como o Mário e o Oswald de Andrade, a Tarsila, a Anita (Malfatti)..."
Isso agrega (ao público) algo que fez parte da nossa história, resgatando escritores e artistas que muito jovens não conhecem
Isabel Maria Tosetti
Para Eli Ribeiro, de 55 anos, a festa em formato de cortejo é também "um passeio pelo centro", com mais segurança, algo que, no dia a dia, ela não consegue fazer.
Na multidão, algumas pessoas já exibiam brilhos e adereços de carnaval, e o que se via era uma plateia de faixa etária variada, com casais acompanhados de crianças e também idosos.
Cortejo ModernistaNa multidão, algumas pessoas já exibiam brilhos e adereços de carnaval, e o que se via era uma plateia de faixa etária variada, com casais acompanhados de crianças e também idosos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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