Dietilenoglicol provocou pelo menos 600 mortes no mundo

Nos EUA, no Panamá, na Índia e no Haiti, a situação se repetiu: dezenas de crianças pararam no hospital com falência renal aguda, e várias morreram. A súbita alta na entrada de pessoas com casos similares alardeou médicos e governos, que descartaram hipóteses até a descoberta da causa do problema, a mesma em todos os casos – o dietilenoglicol. Desde os anos 30, a substância provocou ao menos 600 mortes no mundo, estima o Comitê Científico de Produtos para o Consumidor da União Europeia.
   

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O último surto a ser noticiado havia sido em Bangladesh, na Índia, em 2009. Agora, o problema acomete Minas Gerais, em que 19 casos são investigados, sendo que 15 pacientes estão internados. Quatro pessoas morreram por intoxicação por dietilenoglicol.
A substância foi descoberta em 1859 pelo químico francês Adolphe Wurtz, e, na época, nada parecia ter de venenosa. Ao longo do tempo, popularizou-se como anticongelante, pois faz com que a temperatura necessária para congelar água seja mais baixa que o normal – foi aí que ganhou as graças da indústria cervejeira.
Em países que enfrentam temperaturas negativas, como os EUA, é encontrada na água de radiadores dos veículos, para evitar congelamento no inverno. Mas, na maioria dos casos de intoxicação, ela estava em medicamentos, usada como solvente no processo de fabricação.
O primeiro grande acidente foi em 1937, nos EUA: 105 crianças morreram intoxicadas por um antibiótico. “Nos anos 30, a indústria farmacêutica começou a aparecer no mundo e não se preocupava com a toxicidade, só com a eficácia”, diz o professor de toxicologia Carlos Tagliati, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa que o dietilenoglicol não é permitido em comidas, bebidas ou remédios, apenas no maquinário de produção. A agência diz que não há regulação para o uso de substâncias nesses processos, mas admite avaliar a necessidade de normas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Atualmente, a venda não tem restrições em lojas físicas e online. A Anvisa afirma que é cedo para pensar em restringir a compra – porém, a hipótese não é descartada.
Quanto faz mal? Não se sabe exatamente o quanto da substância cada um dos pacientes em Minas ingeriu – a partir, supõe-se, de cervejas da Backer. Mas estimativas sugerem que um único grama por quilo corporal seria fatal, levando à morte na hora. “A sensibilidade de cada organismo é variável”, ressalta o professor Tagliati, lembrando que alguns estudos falam em letalidade a partir de 1,63 g/kg. Uma quantidade muito menor, de 0,14 mg/kg, já é suficiente para causar danos. “Ainda não se sabe exatamente por qual mecanismo ela age no corpo”, explica o nefrologista Vinícius Colares, da equipe da Santa Casa de Juiz de Fora que tratou um dos pacientes da síndrome – que morreu no dia 8 de janeiro.
O tratamento imediato deve ser aplicação de etanol na corrente sanguínea e diálise (para expelir a substância). Outra possibilidade é a injeção de fomezipole, produto não comercializado no Brasil.
Outra substância encontrada pela Polícia Civil nos tanques da cervejaria Backer é o monoetilenoglicol (mesmo que etilenoglicol). O dietilenoglicol nada mais é que duas moléculas de etilenoglicol. Por isso, o Mapa não descarta que a substância originalmente presente nas cervejas fosse monoetilenoglicol, que teria se convertido na outra nos processos fabris, o que químicos ouvidos pela reportagem consideram improvável.

Como proceder

Cuidados. Ao notar enjoo persistente após consumo de produto suspeito, vá rápido a um posto de saúde, onde deve passar por exame de creatinina (checa funcionamento renal) e avaliação de movimentos da face e dos membros.

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