Ex-PM é suspeito de matar ao menos 21 amigos por inveja em Montes Claros (MG)

Expulso da Polícia Militar no ano passado após 32 anos de farda, Laércio Soares de Melo, de 55 anos é considerado pela Polícia Civil como um psicopata violento. Isso porque ele é suspeito de matar pelo menos 21 amigos próximos e desaparecer com os corpos. Os crimes aconteceram em diferentes épocas em Montes Claros, no Norte do Estado e, segundo a Polícia Civil, seguiam o mesmo modus operandi: negociação de algum bem com a vítima, execução com tiro na nuca, desaparecimento de corpo e consolo dos familiares do morto. O ex-cabo foi condenado a mais de 46 anos de prisão pelas mortes e desaparecimentos de dois homens e, na última quinta-feira (12), foi preso preventivamente no bairro Industrial, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte.
 

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O suspeito já possui condenação, desde 2014, pelo homicídio de Francisco Santos Filho, o “Chiquinho Despachante”, que desapareceu no dia 30 de dezembro de 2009 e, até hoje, não foi encontrado. A vítima teria saído para um sítio na companhia do ex-PM para fechar um negócio. Melo foi condenado em júri popular a 14 anos de prisão pelo crime, chegou a ficar detido em quartéis da PM, mas, atualmente, cumpria a prisão domiciliar. Ele vivia com uma tornozeleira eletrônica e afirmou à polícia que trabalhava com serviços gerais.
O mandado cumprido nessa quinta-feira (12), em Contagem, por sua vez, diz respeito a morte de Gilberto Martins, de 33 anos, pela qual Melo foi condenado a cumprir 31 anos de prisão por latrocínio e ocultação de cadáver. O comerciante desapareceu no dia 27 de junho de 2003 e o corpo dele foi encontrado dois anos depois, a 200 quilômetros da cidade, queimado e com uma marca de tiro na nuca.
De acordo com as investigações, o ex-PM cometia os crimes por inveja de bens alheios. As execuções aconteciam sempre após uma negociação material, como venda ou troca de veículos e imóveis. Os corpos encontrados tinham marcas semelhantes. Todas as 21 vítimas dos crimes investigados eram próximas de Melo. 
“A motivação era a cobiça pelos bens alheios. Ele se aproximava das pessoas, fazia amizade, negociações e, depois, abatia essas vítimas para adquirir esse patrimônio. Ele passava confiança para essas pessoas e elas se sentiam confortáveis em transferir os bens para ele. Certamente ele fazia alguma promessa de um bem posterior, mas depois que ele estava com esse bem, ele ceifava a vítima. A Polícia Civil fez um levantamento dos crimes na região e conseguiu ver a ligação dos dois crimes, de 2009 e 2003, e não só esses dois”, afirmou o delegado Wagner Sales.
O ex-PM, por outro lado, era muito conhecido em Montes Claros. Ele chegou a ser eleito vereador após os crimes e foi candidato a deputado federal. De acordo com a polícia, contudo, o homem tem um perfil psicopata. “O inquérito policial trouxe essa informação do perfil psicopata, do perfil frio desse indivíduo que não respeita a vida humana, não respeita a dor alheia. Após o desaparecimento da vítima ele comparecia a casa das famílias, se colocava para consolar as famílias, para ajudar nas buscas pelos desaparecidos, sendo que ele era o autor dos homicídios”, afirmou o delegado. 
[caption id="attachment_57896" align="alignnone" width="930"] Polícia Civil falou sobre a investigação nessa sexta (Foto: Mariana Nogueira)[/caption]
Laércio Melo se mudou para Contagem em janeiro deste ano e trabalhava como prestador de serviços gerais para uma família. Em dezembro do ano passado ele foi expulso da PM, após o processo de afastamento. “Como era profissional da ativa da Polícia Militar, ele cumpria a pena no quartel da PM. Esteve preso em Montes Claros, foi transferido para Belo Horizonte e depois para Contagem. Agora, como é ex-policial militar, vai ser encaminhado ao sistema prisional”, disse o delegado Wagner Sales.

O lado do suspeito 

Durante a coletiva de imprensa marcada pela Polícia Civil nesta sexta-feira (13) em Belo Horizonte, Laércio Melo afirmou que desejava fazer um posicionamento. Na sala com os jornalistas, deu bom dia a todos os presentes, agradeceu pela oportunidade e se posicionou em frente às câmeras. Na visão dele, a situação é clara: há perseguição por parte da polícia. Em relação às duas condenações, o ex-PM afirmou que não se pode comprovar as duas mortes.
“Acredito tranquilamente que o Chiquinho possa estar vivo, porque ainda não existe nada que configure a morte dele. Já houver casos de o Chiquinho sair do país sem comunicar a família, toda a população de Montes Claros sabe disso. Essa versão é totalmente criada no inquérito. Quem conheceu Chiquinho sabe que ele tem negócios com várias pessoas e que nunca teve problema pessoal comigo. O Gilberto desapareceu em 2003 e, em 2008, eu fui candidato a vereador em Montes Claros. Fui o militar mais votado de Minas Gerais, tirando o cabo Júlio. Em 2010 eu fui candidato a deputado federal. Isso incomodou muita gente devido a expressiva votação que eu tive. Gera um certo desconforto e uma rivalidade política. Dizem que o corpo que encontraram é do Gilberto, mas eu não acredito. Os dois eram meus amigos de infância. É bandidagem falar que eu seria autor de 21 homicídios. O delegado (Rodrigo Bossi, à frente do caso na época) floreou esse inquérito. Eu não tenho provas para dizer que financeiramente ele obteve alguma vantagem, mas a família do Chiquinho tem enorme interesse em um atestado de óbito judicial, então entendam da forma como quiserem”, afirmou.
O ex-cabo, contudo, disse que a justiça será feita e que está recorrendo da decisão da PM de expulsá-lo da corporação. “Decisão judicial a gente não questiona, a gente cumpre. Muitas vezes o Judiciário é induzido ao erro devido à parte podre da Polícia Civil. Essa vida é passageira, cabe a esse delegado se retratar. Me sinto totalmente injustiçado, mas acredito que esse delegado ainda vai se pronunciar e declarar alguma coisa que comprova o que ele fez nos inquéritos. Estou com a consciência tranquila e recorrendo da decisão da PM”, finalizou. 

Repercussão 

Nas redes sociais, uma postagem na página “Chiquinho Despachante - Justiça seja feita”, comentou a prisão de Melo. Nela, familiares da vítima imploram ao preso que informe onde teria enterrado o corpo do então amigo. 
“Agora ele ombreia os assassinos, estupradores, ladrões, corruptos, estelionatários, aos quais ele agora é um dos pares. Mas nada se compara à justiça de Deus. Ele é tão justo que nos concede nos arrependermos dos nossos atos. Espero que ele se arrependa. Espero que tenhamos a oportunidade de saber onde ele enterrou o corpo. Como sei que essa postagem chegará a ele, peço-lhe encarecidamente que nos dê a oportunidade de fazermos um enterro digno para o nosso ente querido. Isso será uma prova de que você começou a se arrepender. Nós, os parentes de Chiquinho, só queremos prestar-lhe homenagem pelos anos que viveu conosco. A família Santos/Pimenta e a Rabelo já o perdoaram”, disse um trecho da publicação.

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