Quase 40% dos homicídios de 2019 em Uberlândia estão sem solução

Uberlândia registrou 25 homicídios em 2019. Desses, a Polícia Civil conseguiu apurar 16 casos. Outros nove continuam sem solução e, por isso, não chegaram ao Poder Judiciário. Ou seja, 36% dos casos registrados neste ano ainda não foram elucidados.

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No ano passado, o índice de casos não resolvidos é ainda maior. Em 2018, dos 75 homicídios registrados, apenas 34 foram apurados. Isso significa que 54,6% ainda não foram solucionados.
Há vários entraves e particularidades que retardam o trabalho da Polícia Civil, conforme explicou o delegado regional, Marcos Tadeu de Brito Brandão. Porém, ele ressalta que objetivo principal da equipe de investigadores não é apenas fechar os inquéritos, mas sim buscar informações fidedignas, angariando provas e indícios que possibilitem ao Ministério Público o oferecimento da denúncia.
“Não é interesse nosso, em hipótese alguma, fazer um inquérito pernicioso, inquérito que teremos um culpado. O nosso compromisso é com a verdade. Descrever os fatos tais quais eles ocorreram”, esclareceu.
De acordo com o delegado, trata-se de um trabalho meticuloso, que envolve desde a perícia e avança para a parte investigatória. Há, ainda, a colheita de informações de testemunhas que tenham presenciado aqueles fatos e também os indícios que possam ter sido deixados no local.
[caption id="attachment_40880" align="alignnone" width="1000"]Nicolly Banks foi morta no Bairro Laranjeiras. — Foto: Pedro Torres/G1 Nicolly Banks foi morta no Bairro Laranjeiras. — Foto: Pedro Torres/G1[/caption]
Em relação a alguns crimes, o delegado citou os assassinatos da travesti conhecida como Nicolly Banks, de 26 anos, morta em dezembro de 2018; e do motorista Igor Moreira Pontes Câmara, morto aos 28 anos, em julho de 2018, com um tiro na cabeça disparado pelo jovem Thiago Leão Monte Arrais. Igor era motorista de uma clínica de reabilitação e levava Thiago para ser internado. A defesa do acusado informou que ele está internado em uma clínica para dependentes químicos.
“Estamos na dependência de cartas precatória que foram expedidas para outras cidades. Assim que forem cumpridas e elas retornarem, vamos redirecionar as investigações. Estamos na dependência de oitivas de pessoas que não se encontram em Uberlândia, por isso foram expedidas as cartas precatórias para que elas sejam ouvidas”, explicou, lembrando que no caso do motorista, já se tem a autoria do crime determinada, restando à Polícia Civil demonstrar como o fato ocorreu.
Os inquéritos não têm prazo para serem fechados. Porém, o delegado reconhece que é necessária a recomposição do efetivo e a manutenção e realização de concursos públicos.
“Temos um déficit gigantesco, principalmente no que diz respeito ao efetivo, ao policial que vai apurar o crime. Isso é objetivo de intervenção do nosso chefe de polícia junto ao nosso mandatário maior, o governador, no sentido de promover recursos, tanto financeiros quanto humanos e logísticos para a nossa atividade-fim, que é exatamente a investigação policial”, declarou.
A questão do baixo efetivo, de acordo com o delegado, prejudica o andamento do trabalho. Atualmente, Uberlândia conta com dois escrivães e duas equipes de agentes que trocam informações entre si e outros policiais. Devido a esse baixo número, alguns casos ficam abertos, pois o inquérito só é fechado quando se tem a comprovada a autoria e como o crime ocorreu.
“Vamos sempre precisar de mais efetivo. Não é apenas questão de número, mas principalmente a qualidade do profissional. Aí entra a importância da Academia de Polícia na formação deles”, opinou.
O advogado criminalista Leandro Araújo reconhece a qualidade do trabalho desempenhado pela Polícia Civil na busca pela elucidação dos casos. Porém, também reforça a necessidade de se recompor o efetivo.
“A Polícia Civil está muito bem servida de delegados e policiais. O grande problema é o número reduzido de agentes para apurar vários casos. Depositar toda a carga em cima da Polícia Civil é complicado. Sei que estão fazendo o máximo para solucionar todos os casos”, avalia o advogado.

Posicionamento da Polícia Civil

Por meio de nota, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), informou que, por questões estratégicas de segurança, não divulga o efetivo da instituição. Contudo, afirma que a atual gestão tem empreendido diversos investimentos em pessoal e melhorias na estrutura para atender a demanda do interior do estado, uma vez que a pauta é vista como prioridade pelo Chefe da Polícia Civil em sintonia com o Governo de Minas.
“No último mês de abril, 67 Investigadores de Polícia se formaram e já foram designados para atuação no interior. Atualmente, há dois concursos da PCMG em andamento: o de Delegado de Polícia, que compreende 76 vagas, já foi concluído, e os novos policiais irão iniciar o Curso de Formação Policial na Academia de Polícia Civil ainda neste mês de junho; o de Escrivão de Polícia ainda está em andamento, já na fase de exames médicos e físicos, também neste mês”, informa a nota.

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