Indústria líder de polo têxtil paraibano economiza 75% de água

Itatex, empresa-âncora do polo têxtil de Itaporanga (PB) do Vale do Piancó, é exemplo de sustentabilidade e otimização de processos industriais. Água é ouro no Vale do Piancó, no sertão paraibano. É comum a região ficar sem chuva, durante meses, e seus mananciais secarem. O abastecimento de água à população e empresas acaba sendo feito por carros-pipa ou poços artesianos Itaporanga é um dos municípios do Vale do Piancó que concentram, hoje, mais de 30 indústrias e cem empreendimentos ligados ao setor têxtil. Há 21 anos, foi iniciada a instalação dessas empresas, que tornaram a região reconhecida como maior polo produtor de panos de prato, chão, flanelas e toalhas do Brasil. Estima-se que são produzidas 600 ton de algodão/ano nas duas cidades. A história deste polo começou com a Itatex de Itaporanga e, hoje, líder e maior indústria do setor. Ela incentivou a abertura de empreendimentos de serviços e facções em seu entorno.  Desse modo foi formada a cadeia produtiva de panos de prato e chão, e depois, de flanelas e toalhas. O polo fornece os produtos para todo o país. Nos últimos anos, a Itatex se tornou, também, exemplo em gestão hídrica e otimização dos processos produtivos na região. Ao participar do Projeto Sebraetec do Sebrae PB em 2014, a indústria reduziu as etapas do processo de lavagem e alvejamento de seus produtos. As lavagens eram feitas em sete etapas e caiu para apenas duas. Esta iniciativa reduziu o consumo de água em 75%. Ao todo estão sendo economizados cerca de 7,5 milhões de litros /ano. A iniciativa da Itatex é um exemplo de como os pequenos negócios podem contribuir para o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 6, que objetiva garantir água potável e saneamento em 193 países até 2030. Ao todo 17 ODS compõem a Agenda 2030, assinada por todos os países presentes na Cúpula das Nações Unidas (ONU), realizada em Nova Iorque, em 2015 “Água é essencial para nosso negócio. Estávamos sofrendo com a crise hídrica muito forte, nos anos 2013 e 2014. Chegamos ao estado de calamidade na região. Durante um ano inteiro, a cidade ficou sem abastecimento e só contávamos com água de poços artesianos próprios e carros-pipa”, conta Daniele Dantas, diretora da Itatex. A matéria continua após a publicidade Inicialmente as mudanças propostas pelas consultorias do Sebrae PB nos processos produtivos despertaram desconfiança. Muita gente achou que haveria perda da qualidade dos produtos. Fizeram testes e verificaram que a qualidade permaneceu a mesma. “Foi um processo de mudança pesado”, diz Daniele. A indústria e a D’Serve (empresa de confecção que fabrica os panos de prato, flanelas e toalhas para a marca Itatex) geram juntas 180 empregos diretos e indiretos na cidade. Há cerca de  cem Microempreendedores Individuais (MEI) atuando, também, na cadeia produtiva. A experiência dos dois empreendimentos é acompanhada por todo o polo. “Nós sempre nos preocupamos em dar exemplo, por sermos pioneiros. Desde a contratação de funcionários, estrutura e organização”, ressalta Daniele. Antes e depois  Para o consultor Germano Gomes de Moura, a experiência da Itatex foi um divisor de águas. “Foi quebra de paradigma. Fizemos um trabalho de educação e conscientização sobre o uso da água na empresa. Não foi preciso investir em tecnologia avançada, nem novos equipamentos. Tudo foi baseado na mudança de hábitos”, explica ele. “Faltava conscientização para implantar a gestão da água na empresa”, resume Ana Stefânia Rodrigues, gerente da agência de Itaporanga do Sebrae.  Atualmente a instituição atende 15 indústrias de pequeno e médio portes do polo. O objetivo do projeto do Sebrae PB é  reduzir custos de produção, com foco em sustentabilidade, esclarece a gerente. Eficiência energética Havia anos que o processo de lavagem e alvejamento era realizado em sete etapas. Ao passar a ser feito em apenas duas, também ocorreu redução do consumo de energia elétrica.  A empresa reduziu custos de produção e ganhou agilidade. O custo operacional caiu 50%, informa a empresária. Devido à mudança nos processos produtivos, a Itatex não sentiu a crise da água como as outras empresas do polo. No momento, a indústria está buscando eficiência energética e investe na troca de equipamentos antigos, substituição na iluminação da fábrica por lâmpadas Led. Reaproveitamento de fios Outro exemplo de sustentabilidade da indústria é o fato do fio usado na fabricação dos panos de prato e chão, principalmente, ser de reaproveitamento. Setenta e cinco por cento dos fios são resíduos do resto de tecido de fabricação. O que era lixo, virou matéria-prima. Fundador Divaldo Dantas foi o fundador da indústria de panos de pratos e chão, que fez história na região. Ele também incentivou os empreendedores a abrirem o mercado de panos de prato e chão em outras regiões do país. “Meu pai tem o setor têxtil desde o berço. Ele é de São Bento, pólo de fábricas de redes”, conta a empresária. Divaldo morava em Presidente Prudente quando soube que um irmão estava indo bem vendendo panos de prato e chão na Bahia. Começou a pesquisar sobre o ramo e enxergou a oportunidade. Em 1996, montou a fábrica em Itaporanga. Nessa época, o fio de algodão vinha de Fortaleza e João Pessoa. O fundador da indústria sempre incentivou os itaporanguenses ao empreendedorismo. “A realidade daqui só vai mudar se montarem empresas. Compre um tear e comece a produzir, que eu compro a produção”, dizia ele às pessoas, segundo Daniele. Assim começaram a surgir pequenas facções e comerciantes de panos de prato e chão, que abriram mercados no Nordeste e todo o Brasil. “Uma empresa só não faz verão”,  era a frase predileta do pai. Empreender era a única saída para Itaporanga sair do isolamento, segundo sua visão. Sem empresas e espírito empreendedor a cidade nunca iria atrair entidades representativas importantes como um escritório regional do Sebrae Itaporanga, inaugurado em dezembro de 2015; Instituto Federal da Paraíba; ações da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, bancos, etc Ele tinha razão. Hoje, o polo de Itaporanga (integrado por cidades vizinhas) possui mais de 30 indústrias de tecelagem e lavanderias. Divaldo é o atual prefeito do município.

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